é que o Partido Comunista Português acabou de anunciar uma moção de censura ao governo, o que pode ser visto também da perspectiva dos sindicatos afectos ao PCP/CGTP que irão certamente sair à rua e apertar o cerco a José Sócrates. Quando o centro procura estabilidade as franjas mais à esquerda optam pelo sangue, talvez seja a sina deste pedaço de terra à beira-mar plantado.
Não sou economista, os livros de economia são dos poucos que não leio, mas não gosto que me façam passar por burro. Mais do que isso, não gosto de injustiças. E o PEC é sobretudo isso, um monte de injustiças para quem trabalha e para quem gera riqueza e consumo no país. Vejo-me pois obrigado a subscrever este texto do Miguel Castelo-Branco no 31 da armada.
O que os economistas e os jornalistas da área económica dizem é unânime, quem vai suportar o PEC, a crise e a deriva de investimento público é apenas a classe média. Quando falamos de classe média falamos das famílias nas quais os membros do casal investiram na carreira, apostaram na escolaridade, muitas vezes arriscaram e tornaram-se pequenos e médios empresários, e para além disso fizeram uma coisa básica: investiram na sua formação pessoal e também, em alguns casos, na sua cultura.
Esta sociedade inverteu os papeis, quem trabalha, quem investe e quem se preocupa com o futuro é que tem que pagar o desemprego daqueles que não investiram na sua formação, não arriscaram no mundo empresarial e que agora não conseguem sair do desemprego. Em vez de premiarmos o mérito optamos pelo caminho mais fácil, ou seja, tirar aos mais ricos, que mais se esforçaram, para dar aos mais pobres que não fizeram por serem mais ricos.
Num país em que a maioria da população fizesse alguma coisa pelo seu sucesso pessoal isto pareceria injusto. Em Portugal é normal - porque quem tem mérito é efectivamente uma minoria.
Vivo numa zona central da cidade de Lisboa, onde pago uma renda de largas centenas de euros. Ao meu lado colocaram um bairro social e mais à frente um bairro de ciganos. Isto significa que eu e os meus vizinhos, que trabalhamos para ali viver, temos que trabalhar ainda para pagar a habitação dos bairros que colocaram ao nosso lado. Como bónus esses mesmos bairros ainda nos trazem o óbvio: mais insegurança, mais problemas e uma desvalorização da nossa habitação.
O PEC é apenas o continuar desta mentalidade. Penalizar quem trabalha e premiar quem não quer trabalhar, não quis investir na sua formação e não se quer chatear.