A invenção do amor mudo é muda, não fala, ou seja, não age. Amor que não age é aborto, amor que não fala não reage. Algo que não reage não vive, quem não vive não ama. A invenção do amor mudo é moderna, se é moderna reage, a modernidade reage ao passado conservador - se reage inventa. Daí a invenção do amor mudo.
No amor mudo há quem grite por dentro, quem desespere. O amor mudo é a pior das invenções da censura moderna. A antítese do amor mudo é o amor - sim o amor, mais nada. Todos nós quisemos mudar o amor, nunca ninguém foi bem sucedido - o amor é imutável, o amor é igual ao que era há trinta, duzentos ou mil anos. Triste, alegre, duro, cruel e todo esse rol de palavras comuns um tanto ou quanto próximas da piroseira - o que não faz delas palavras falsas, pelo contrário. O amor não pode ser mudado, mas deve ser reinventado, o que não é igual a tornar-se mudo.
Reinventar uma coisa é transformar outra, o que pode ser fácil - nos sentimentos não. Se eu, ou o estimado leitor, quisermos mudar a forma como o mundo vive um determinado sentimento, neste caso o amor, o que devemos fazer? Não há receitas - lá estou eu a cair na banalidade. Sim há uma receita: encarnarmos nós a forma como achamos que o mundo deve viver esse sentimento, sim o amor. Tanta coisa para dizer que devemos ser românticos.
Um dia vou destruir o amor mudo reinventando o verdadeiro e único amor. Vou dizer-te, estimada leitora, como é difícil ser mudo. Vou devolver a democracia ao amor.