29.12.08

 

Quando somos chamados a reflectir sobre uma qualquer doutrina política, principalmente se a mesma for referente à chefia de estado de um país, neste caso do nosso país, arrastamo-nos quase sempre para o facilitismo do “porque sim”. Gostava que um qualquer republicano, ou monárquico que seja, me explicasse o porquê de preferir um rei ou um presidente para chefiar o seu país, neste caso Portugal. Os argumentos recorrentes dos “porque sim” levam-nos ao marialvismo monárquico por um lado e ao jacobismo esquerdista por outro. No fundo, os dois “porque sim” são a mesma coisa – transformados anualmente em material de show business, pronto a animar as madrugadas televisivas dos vários primeiros de Dezembro.

 

Para uma pessoa defender uma doutrina política, enganem-se os que pensam que não falamos de um doutrina política, é preciso ter uma argumentação sólida sobre a mesma. Não basta sermos crentes, não basta sermos monárquicos ou republicanos “porque sim”, se assim fosse não estaríamos a reflectir sobre política, mas sim sobre religião. Gostava então de começar por expor o porquê de eu me dizer monárquico. Vou tentar ser breve e ao mesmo tempo não pecar por falta de argumentação, que aliás comecei por criticar.

Defendo uma monarquia moderna para Portugal, uma chefia de estado de cariz hereditário e europeísta, herdeira do legado deixado pelos nosso últimos reis. Pegando neste ponto, a primeira razão para me dizer monárquico é uma motivação histórica e identitária de um jovem do século XXI que olha para Portugal. Estamos perto de comemorar o centenário da república e a esta distância podemos começar a reflectir sobre as verdadeiras motivações do regicídio e também da revolução republicana do 5 de Outubro. Não me quero alongar neste ponto, até porque muito já foi dito e escrito neste último ano, mas basta compararmos as personalidades dos nossos dois últimos reis com a dos nossos vários presidentes do século XX português. Cem anos de república, foram em parte 40 anos de ditadura fascista, de isolamento diplomático e de um retroceder cultural. Tudo aquilo contra o qual o Rei D. Carlos e o Rei D. Manuel II lutaram. Um rei é um garante da soberania, da cultura e da história de um povo – o rei é livre, o país também.

A segunda razão é óbvia para quem observa esta questão sem filtros, sem palas e sem preconceitos. Portugal é hoje um país de compadrios, onde impera a corrupção, os escândalos que envolvem políticos e gestores das grandes empresas, onde os ricos são cada vez mais ricos e conseguem com facilidade manipular os políticos, nascidos e criados nos aparelhos partidários. Tem alguma lógica que um chefe de estado venha do próprio sistema? Sendo o chefe de estado o arbitro e moderador das relações políticas do país, deverá ele vir dos próprios aparelhos partidários? Esta promiscuidade não existe quando o chefe de estado já o nasce sendo, sem precisar de vender a sua alma ao capital, aos interesses e aos lobbys. É este o principal paradigma da república, que a faz ser cada vez mais questionada.

A terceira e última razão é de ordem prática. Um rei, ao contrário de um presidente da república, tem por parte do povo e da comunidade internacional uma legitimidade que um presidente da república não tem. Por parte do povo, porque o rei é rei de todos os portugueses, ao contrário do presidente da república que é eleito apenas por uma parte dos eleitores, que posteriormente não se reflectem na sua figura – Cavaco Silva é um exemplo por demais evidente. Por parte da comunidade internacional, por razões históricas, familiares e mais importante do que as outras duas, por ser independente face a pressões políticas de grupos partidários de cariz internacional.

Assumo-me assim como um monárquico sem vergonha de o ser. Como diria o Miguel Esteves Cardoso, “os monárquicos são o maior partido clandestino existente em Portugal” e para ser monárquico não basta ter um autocolante estampado na traseiro do carro e dizer que o somos “porque sim”. Por esse motivo, para que se desmascare a república e se faça uma reflexão séria sobre o ideal monárquico, aceitei o simpático convite do João Távora e assim começo a minha travessia no “Centenário da República”.

link do postPor João Gomes de Almeida, às 06:36  comentar

De Rui Monteiro a 29 de Dezembro de 2008 às 18:09
Caro companheiro João

Vou publicar o teu artigo no blogue Causa Monárquica e no Esquerda Monárquica.

Abraço
Rui Monteiro

p.s. : sobre o que escreveste eu digo "Amén" :)

De João Gomes de Almeida a 29 de Dezembro de 2008 às 18:36
O meu obrigado Rui!

Um forte abraço!

De PALAVROSSAVRVS REX a 30 de Dezembro de 2008 às 11:00
Disse-o ao João Távora e digo-to a ti: não estás só. Seremos cada vez em maior número a acordar para esta realidade límpida: a República não cumpre Portugal, submete-o e avilta-o.

Está na Hora de repor a nossa Liberdade. Começa a estar em Causa a nossa Liberdade e o nosso Rumo Cultural e Histórico como um todo holístico apenas malbaratado por políticos de pechisbeque que nos têm calhado na rifa, venais, superficiais e sem patriotismo fundo e fundamentado.

Abraço
joshua

De Maria do Monte a 4 de Janeiro de 2009 às 12:50
Um Rei é Rei de todo um Povo, é a identidade histórica e cultural de um Povo, não representa nenhum partido político.

Um Presidente de uma República é um militante de algum partido político e candidato apoiado por uma linha política.

Não é isento da linha de seu partido, é eleito por uma parte de um povo, não representa um Povo, representa só um Estado durante um período de tempo.

Em Portugal um Presidente quando termina o(s) seu(s) mandatos adquiri o direito de uma pensão vitalícia, a juntar à(s) sua(s) reforma(s) ...

Como já aconteceu nem sempre age isentamente da linha política do partido a que pertence.

O Presidente da República para mim é o representante de quem votou nele, não o que representa-me como fazendo parte de um Povo ...

Um Rei é a unidade um Povo e representa-o.



Maria do Monte

De Joao Brangança e Chaves a 4 de Janeiro de 2009 às 13:30
"porque sim" ... andas com um discurso muito "yes we can" isso é muito democrata. Não sei qual é o teu objectivo... mas prefiro um presidente conhecedor de todos os caracteres sociais , económicos etc , do que um Duarte Pio que nem o nome dele sabe escrever num livre de reclamações. Sou monarca , espero que ele tenha educado bem os seus filhos, pode ser que o meu ponto de vista mude.

Abraços João Bragança e Chaves

De IzNoGuud a 4 de Janeiro de 2009 às 15:01
Finalmente um Monárquico a sério!

Estou farto de pseudo-monárquicos que usam de uma retórica ultrapassada e agarrada a clientelismos ou que recorrem a acções que nos envergonham a todos (monárquicos).

Finalmente um de nós, que sabe por os pontos nos iis e diferenciar o amar Portugal, servindo-o da forma que acha melhor, neste caso sob uma Monarquia, sem deixar de respeitar aqueles que não se revêm em tal posição, sem deixar de colocar a sua posição na linha de tiro à procura de falhas por forma a corrigir as mesmas.

Finalmente um Monárquico!

Os meus sinceros parabéns ao autor deste texto.

IzNoGuud

De Manuel de Sousa a 4 de Janeiro de 2009 às 15:09
Sr. João gomes....meu nome é Manuel de Sousa e desde ja digo que fiquei atonito com o qua acabei de ler...é uma tese muito bem escrita e com argumentos validisssimos...concordo com tudo o que esta escrito especialmente a parte do "porque sim".

É um texto que servirá de exemplo para todos...muito eloquente..
os meus melhores cumprimentos

manuel de sousa

De Paulino B. Fernandes a 4 de Janeiro de 2009 às 18:19
Bravo João Gomes.
Subscrevo.
PF

De Josephus a 4 de Janeiro de 2009 às 18:32
Orgulhosamente Monarquico!
seu Monarquico sem Vergonha ;)

P'la Patria Real.

De Hélio Daniel a 4 de Janeiro de 2009 às 20:33
Olá João

Gostei muito do seu artigo.
Parabéns! Feliz 2009!

De KLATUU O EMBUÇADO a 5 de Janeiro de 2009 às 17:15
Respondido: http://cronicasdapeste.blogspot.com/2009/01/ser-monrquico-uma-polmica.html

Viva o Rei!

Ana Anes

Ana Anes nasceu em Lisboa a 2 de Abril de 1973, com o cordão umbilical bem preso no pescoço. Pode-se dizer que é uma sobrevivente (alegre) e, como tal, decidiu festejar a vida com um carácter irreverente, livre de constrangimentos e da opinião alheia, com uma faceta “bombista-literária” em que não se levando a sério - porque a vida já é demasiado pesada por si mesma...
Tem dois livros publicados, e já escreveu em vários órgãos de imprensa, como O Independente, Destak, DNA, Maxmen, Correio da Manhã e Playboy. Os seus blogues já deram muito que falar.
Ana Santiago

Primeiro queria ser médica de autópsias, depois teve a mania de ser jornalista e apaixonou-se pela rádio, acabou por dedicar-se ao serviço público e vive uma relação passional com Lisboa, como sede no poder local, onde editou a Agenda Cultural.
Licenciada em Comunicação, resignou-se ao facto de pouco mais saber fazer na vida do que comunicar, de manhã à noite, com toda a gente e, se mais ninguém houver por perto, com ela mesma. Acredita que é com o coração.
Cátia Simão

Foi em véspera de uma Sexta-Feira 13 de Setembro que sua mãe conheceu o rosto enrugado e percebeu que não era o David (sobre o qual) tanto conversara durante 9 meses. Daí para a frente foi muitos nomes a até se assentar como Cátia. Cresceu pensando que iria ser modista, mas não tinha muito jeito para fazer costuras e braguilhas. Virou-se para a arqueologia e seguiu outro caminho, a música, os filmes e a rádio. Seguiu-se dos seus amores de garota. Ainda hoje procura as agulhas do seu giradiscos portátil na bainha de um vestido rosa da moda. É muito feliz e gosta de sorrir.
Cláudia Köver

Tem os ensinamentos anglo-saxónicos cravados nas sardas e o amor às artes nas pontas dos dedos. O gosto pela manta das Relações Internacionais, adquirido pelos retalhos da herança familiar, consome-se nas almofadas do mestrado. Seguiu um coelho branco e calçou os saltos de jornalista EM que de momento lhe assentam os pés. Deixou pequenas pegadas nas páginas da “Pública”, da revista “Nós” do Jornal i, do Jornal Briefing e da televisão Arte. Incapaz de se manter fiel ao amor por um só par de sapatos, fez cursos em instituições europeias e teve aulas de representação em palco poeirento. Infelizmente, não teve dom para fazer dinheiro como viajante, mas soma este aos restantes vícios: desde a última tarde de 86 que não se inibe de sorrir e sonhar.
Inês Leão

Registada na bela freguesia de Mem Martins, Inês teve uma infância feliz, até ao dia que teve de abandonar o ballet por ter as pernas tortas (erro que nunca foi corrigido pelas botas ortopédicas ora azuis ora castanhas, que usou até tarde). Sempre gostou muito de desenhar, tendo como maiores influências os filmes clássicos da Disney, a Barbie e o seu pai. Quando teve de escolher a sua área optou por artes, por não ter matemática, não fazendo ideia que teria de gramar com geometria descritiva. É recém-chegada no design e o seu sonho é ser uma designer de sucesso, trabalhando a partir do seu iate privado na marina da Costa Nova, na Ria de Aveiro.
Nuno Miguel Guedes

Nuno Miguel Guedes nasceu em Lisboa em 1964. Jornalista, esteve no inicio de O Independente, de onde saiu em 1990 para a revista Kapa, de que foi co-fundador e co-afundador. Escreve para várias publicações e é colaborador pemanente da revista Visão (cultura) Letrista sempre que o deixam, guionista de televisão, bloguista, DJ ocasional, anglófilo, fanático da Académica e de livros. Nos tempos livres pratica o dry martini.
Pedro Rainho

Nasceu no iníco da década de 60, na vila de Sintra. Filho de família aristocrata, cedo forçou-se a desiludi-la. Aos 14 anos já estava ilegalmente no MRPP, onde foi companheiro de luta académica de Durão Barroso, na Faculdade de Direito. Mal acabou o curso viu nascer Abril e ingressou no jornalismo. Tornou-se barbudo e descobriu o fado, a monarquia e os touros. Por esses quatro motivos entrou com o Nuno Miguel Guedes no PPM e dedicou-se ao jornalismo como paquete de Paulo Portas e Miguel Esteves Cardoso n'O Independente. Escreveu três ensaios sobre literatura russa medieval, traduzidos em mandarím e tchecheno. Deu aulas na Independente e consumiu marijuana com o comandante Zapata, durante uma fotoreportagem. Tudo isto é mentira - mas bem que podia ser verdade, não tivesse ele nascido na década de oitenta e ser um jovem jornalista precário. É o que dá ser novo.
Tomás Vasques

Advogado de profissão, não se deixou enclausurar em códigos e barras. Arrumado na prateleira da esquerda pela natureza das coisas, desenvolveu na juventude – ainda as mil águas de Abril não tinham chegado – gostos exóticos, onde se incluíam chineses, albaneses e charros alimados. Navegou por vários territórios: da pintura à América Latina, da escrita à actividade política. Gosta de rir, de cozinhar, de Roberto Bolaño, de amigos, cerveja e peixe fresco. Irrita-se com a intolerância e o autoritarismo. É agnóstico. Apesar da idade, ainda não perdeu o medo do escuro, do sobrenatural e das ditaduras.