A noite estava a correr bem, se é que existe alguma maneira de poidermos esperar que uma noite «corra». Mas esta, repito, corria bem: vinho, olhares, sorrisos, risos. (sei fazer uma mulher rir apenas porque gosto de ver uma mulher a rir).
As doces nuvens das trivialidades e «coisas em comum» tinham sido ultrapassadas com sucesso. Foi então, entre a sobremesa e o café, que veio a triste epifania: atirei com os versos lindos e fatais do Tolentino. «Ainda espero o amor/como no ringue o lutador caído/espera a sala vazia».
Ela percebeu a deixa. Eu também.
E a noite terminou como tantas noites antes e depois desta: em casa, sala às escuras, Jameson com água numa mão, cigarro no outro. Como única companhia, o amigo do costume, o senhor Sinatra a lembrar que Glad To Be Unhappy.
A noite esteve a correr bem.