21.9.09

 

 

Assinar petição aqui

 

MANIFESTO CONTRA A RACIONALIDADE

 

Preâmbulo

 

São 22h20 de uma noite de final de Verão na serra. Embora ainda seja Setembro está frio, estou no norte do país, a quase 400 km de Lisboa. Aqui não há o mínimo barulho que interfira com a escrita, só os barulhos banais da natureza, mas que me parecem cada vez mais estranhos, por vezes assustadores. Estou num alpendre em pedra, onde ao longe o olhar consegue atingir umas luzes, indefinidas luzes que me disseram várias vezes ser Aveiro, facto que nunca acreditei até reparar no farol. Escrevo no cimo de uma serra onde ao longe vejo um farol – banal? Sim, talvez. Mas para mim esta tranquilidade é especial, há textos que só podem ser escritos fora da cidade.

Há quase dez minutos que aqui estou sentado e ainda não ouvi um carro, o barulho de uma televisão – absolutamente nada que indicie a mínima presença de humanidade, civilização. Ouço um gri gri ensurdecedor que penso serem grilos, cigarras, ou um qualquer tipo de bichos assim do género. Depois há o vento, que vai e vem em rajadas fortes. De resto nada, absolutamente nada.

Ao longe atingi um barulho, são os sinos da igreja a anunciarem a meia hora. Em Lisboa querem proibir os sinos da igreja “porque fazem muito barulho”. Aqui, na serra, os sinos assinalam a existência de vida, assinalam que ainda estamos vivos e que o resto do mundo também. Os sinos servem de bússola, de fio condutor das pessoas. Na serra os sinos da igreja são o único elemento vivo de racionalidade. A inútil racionalidade.

Chamei a este texto “Manifesto contra a racionalidade”. Manifesto porque tem mais impacto do que se lhe chamasse “folhetim” ou “elogio”. Um Manifesto não se escreve de ânimo leve, um Manifesto é uma coisa sentida que brota do fundo do peito para o mundo, não para uma pessoa em especial – mas para todo o mundo. Um “folhetim” ou um “elogio” pressupõe uma constatação, um manifesto é um acto de acção, de afrontamento, de revolta, de amor – acho que finalmente encontrei o senso, a lógica se quisermos, da terminologia – um “Manifesto” é um gesto de amor ao mundo.

Proletários mortos à fome por todo o lado, burgueses anafados com unhas castanhas de davidoff, clérigos presos aos dogmas da santíssima trindade, nobreza falida que prega poesia nos salões a tresandarem a mofo, ouvi-me. Por favor ouvi este afrontamento, ouvi estas palavras, se não por mais, apenas por serem um gesto de amor ao mundo.

Um acto de acção é antes de mais um acto de reacção. O português gosta de ser reactivo, o português é e sempre será reactivo – avesso à mudança dizem os radicais de esquerda, que por norma são meninas bonitas de roupas estranhas. Nunca houve um regime socialista em Portugal pelo simples facto de sermos reactivos, de entendermos que está tudo mal, mas que afinal não está assim tão mal que torne urgente uma mudança. Somos reactivos para sermos iguais ao resto do mundo – é neste ponto que falham as teorias das meninas bonitas de extrema-esquerda.

O português não é como o francês, que no fundo o que deseja é um mundo perfeito. Nós queremos um mundo “porreiro”, um mundo “assim-assim”. Queremos ser felizes à custa de nos mantermos iguais. Por isso, só por isso, nos tornamos num povo reactivo. É por este motivo que urge uma reacção em massa contra a racionalidade, é por esse motivo que devíamos reinventar a literatura portuguesa de amor. Foi assim que quase matamos a nossa poesia. E a culpa? A culpa foi de Fernando Pessoa. E eu adoro o Pessoa e qualquer outra pessoa que escreva algo de parecido com a genialidade dos seus poemas.

Pessoa, de tão genial que era, assassinou a nossa verdadeira poesia. Matou as cantigas de amigo, as cantigas de amor, os sonetos de Camões e o amor transformado em poesia verbal vomitada por entre versos. Pessoa, que era pessoa, certamente não pensou que a sua escrita tivesse consequências tão nefastas na cabeça dos portugueses. A nossa escrita tornou-se como que racional. Amigos gritem comigo: morte à racionalidade.

Sou um tipo que conhece algumas pessoas, não muitas, mas algumas. Já fui director de um jornal e tudo (já viram que título mais pomposo?), não que me sirva de muito, até porque era um jornal regional de uma cidade, mas mesmo assim sinto-me arrependido. Podia ter usado aquelas páginas amarelas de gramagem xpto para atentar contra a racionalidade, era como que uma mini asfixia democrática. Começaria ali no pasquim e depois partiria para o resto do país, seria o furor nas redacções dos jornais regionais, depois dos diários nacionais e qui ça mesmo nos semanários. Fazem falta nos jornais textos irracionais que atentem contra a racionalidade. Mas este texto seria travado pela máquina oculta da racionalidade. Onde? Não sei, mas seria certamente. Ou na revisão, ou na impressão, ou na distribuição, ou nos quiosques, ou em qualquer outro lado – lá viria a DGS da racionalidade impedir que a mensagem passasse.

Para além disso sou editor e até escrevi um livro, o que me daria espaço democrático para convencer a restante equipa da editora a aceitar a publicação deste manifesto. Mas provavelmente teria que subtrair o custo de impressão ao meu salário. Quem é que acredita na eficácia comercial de um texto que atenta à racionalidade? Ninguém, claro. A culpa é do sistema. Ainda para mais existem todos os outros factores externos à edição, completamente dominados pela DGS da racionalidade. Primeiro ia ser a distribuidora que não distribuía e depois iam ser os livreiros que nem à consignação iam querer manifestos nas suas prateleiras (estão fora de moda e ainda por cima vai sair o novo livro do Dan Brown a cascar na maçonaria). Pior do que tudo isto, quem é que compra um manifesto? Ninguém. O único que li foi o do Marx e o do Engels, e não o comprei, também confesso. Roubei, roubei ao meu tio que já foi maoísta e nunca o devolvi. Desculpa lá tio, espero que não tenhas facebook.

Chegamos ao facebook – o método reactivo por excelência na era moderna do 2.0.

Há umas semanas organizei um curso de política, deram-me o título de “director” e tudo. Foi giro, mas o convite é explicável pelo facto do verdadeiro organizador ser um filósofo, ou se preferirmos um professor de filosofia. Um professor de filosofia, que para além disso é um bom amigo, e que nestas duas qualidades teve a irreverência e a (reparem bem no conceito) irracionalidade de me fazer esse convite. No entanto, foi giro. Mas vamos ao que interessa.

Uma das aulas do curso foi dado por um bloguer/consultor de comunicação conhecido do grande público, um tipo afável e porreiro que em tempos até cometeu a irracionalidade (lá está, o conceito sempre presente) de aceitar apresentar o meu livro. Durante a aula falou-se essencialmente de comunicação 2.0, uma apresentação excelente e bem documentada, com dados de fibra óptica e tudo. Em suma, fiquei a perceber que a comunicação do futuro, principalmente a irracional, pode e deve ser feita com recurso à internet, através da tecnologia 2.0. Desta feita parti para a aventura, e assim nasceu o “Manifesto contra a racionalidade”.

 

UM MANIFESTO EM SETE PONTOS

 

1)      O AMOR

O amor há muito que foi morto pela racionalidade. Quando falo de amor não falo de paixão, porque essa até mantém alguma da sua irracionalidade – o seu principal elemento diferenciador em relação ao amor. Falo antes do amor verdadeiro, aquele que se sente como que de um soco no estômago se tratasse, aquele nos faz olhar para um sorriso e pronto. Começamos a amar e amamos até ao fim dos nossos dias.

Que acabem os paninhos quentes no amor, que acabem os meios-termos, que acabem as hesitações em dar o primeiro beijo, que acabem os cafezinhos, que acabem os ciúmes, que acabem as discussões, que acabem as futilidades, que acabem os complexos, que acabem os elementos externos, que acabem as confusões – o amor é o tudo ou nada. No amor não há espaço para a racionalidade, os sentimentos são para serem impulsivos, irracionais, instantâneos – o amor não é uma conveniência, não é um estado de alma, não é um achar que. O amor é um tem que ser já. Então que se bana já a racionalidade do amor.

2)      A AMIZADE

A amizade é a água tónica a fervilhar num copo com gelo cheio de gin. O gelo por si apenas sara as feridas, o gin é áspero de mais para ser bebido sozinho e a água tónica por si só é apenas aparência, trata-se da bebida dos ex-alcoólicos que queriam era estar a beber gin tónico. Da conjugação das feridas que é preciso sarar, com os conselhos amargos que é preciso receber e com a agradável companhia que é a tónica, nasce a amizade. Uma coisa é um conhecido, a outra é um amigo – o conhecido é racional, a amizade é irracional.

Abandonemos os amigos do racional na primeira esquina. Vamos pegar nos telefones e ligar, ligar aquele amigo que não vemos há uma eternidade, praticamente há dois dias, e dizer o quanto gostamos do ter como amigo. Vamos desatar a chorar em cada ombro, vamos a correr marcar um copo com cada um dos amigos e tirar fotografias. Vamos decorar as lareiras do país com fotos de amizades roubadas à piroseira – mas fotos de amizades sinceras. Que nunca ninguém mais fale da amizade sem a sentir.

3)      A FAMÍLIA

A família não se escolhe, o amor e as amizades também não. Dizemos que é um frete estar com a família, por vezes até o sentimos, mas porquê? Por sermos racionais. É preciso amar a família não nas suas virtudes, porque isso é fácil, é racional. Temos que amar a família principalmente nos defeitos e dar conselhos, mesmo que sejam rejeitados e insistir, e transformar, moldar a família com base no respeito, na adoração.

Respeitar um familiar é sermos irracionais, é pegarmos no nosso pai que é do Benfica, sendo nós do Sporting, e levá-lo à Luz a ver um jogo e a comer uma fartura nas roulottes junto ao parque de estacionamento. Temos que reinventar a família, temos que ser reactivos ao ponto de não a deixarmos morrer, como instituto, como algo nosso, como sentimento de continuação e como tudo o resto, todo o rol de sentimos que nos faz rolar uma lágrima pela face quando sentimos saudades de um familiar.

4)      AS CRIANÇAS

As crianças são o futuro, o amanhã. Tretas. As crianças são o hoje, são o presente, são o agora e são o agora na sua plenitude, são principalmente o que de mais puro e genuíno existe no mundo. Uma criança é para ser abraçada a cada momento, é para ser beijada, é para ser adorada a cada instante – ninguém tem mais para nos ensinar no mundo do que uma criança. Dizemos que as temos de educar, para quê? Para se tornarem iguais a nós? Sim, é para isso que as gostamos de educar, por e simplesmente para as tornarmos racionais.

Aceitemos e promovamos a irracionalidade das crianças. A sensatez com que repetem os gestos na televisão, a facilidade com que ignoram os estímulos que não sejam sensitivos, a genuidade que com que simpatizam com uma pessoa, independentemente da classe social, da crença, da cor, do feitio, do bigode, da roupa e mesmo do coração. Se aprendêssemos com as crianças não seriamos os brutamontes sentimentais que somos hoje em dia. Ensinemos as crianças a continuarem irracionais. Aprendamos com elas.

5)      O TRABALHO

Para uns santifica, para os outros dignifica e para os verdadeiros irracionais atrapalha. O trabalho serve para pagar as contas, e porque assim tem que ser. Se não houvesse trabalho, o que é impossível, tanto melhor. Mas como é necessário então tudo bem, façamos um esforço. Mas nunca nos deixemos absorver pelo trabalho, a capacidade de absorção é uma coisa que está reservada às esponjas e aos sentimentos. Esses sim são necessários absorver e se os absorvermos vamos ser felizes, mesmo a trabalhar. Decreta-se pois que nunca ninguém promova o trabalho em vez da felicidade, do amor, das crianças, da família e do resto. Dos milhares de coisas que são muito mais importantes do que o trabalho.

6)      O SEXO

Ai que horror que os irracionais só querem e só pensam no sexo. Vamos lá todos promover o sexo desmedido, com ou sem preservativo, nos bares, nas cabines telefónicas, nas sacristias, nas camas, nos bordeis e nos lençóis do vizinho. Nada disso, isso é estupidez, não é irracionalidade.

O irracional respeita o sexo, de quem o pratica e de quem não o pratica, porque não pode ou porque não quer, ou porque tem mais que fazer, ou até porque está bêbado de mais e não o consegue. O sexo é irracional porque é pessoal. Tendo estas duas características só é condenável quando ser torna racional, quando o fazemos porque tem que ser. Devolvamos também a irracionalidade genuína ao sexo. Façamos apenas porque queremos e com queremos.

7)      A POESIA

Somos um país de poetas, de poetas com medo – por causa da racionalidade. Escrevemos os nossos poemas à noite em casa, nunca durante o dia numa esplanada. Escrevemos os nossos poemas e guardamos no fundo da última gaveta da mesinha de cabeceira, não corremos para os nossos amigos a perguntar se gostaram. E se alguém os encontra? Primeiro ficamos brancos, depois azuis e quase desmaiamos. Para compensar ainda damos uma desculpa: “isso não são bem poemas, são uns versos” ou então “são uma coisa minha”. Temos medo de utilizar a poesia para mostrar aos outros o que sentimos. Achamos que são uma coisa para nós, para passar o tempo. Mas não – a poesia é uma coisa para mostrar ao mundo.

Nem que sejam uma porcaria, literariamente falando, são os nossos poemas e quando os escrevemos depositamos lá algo de nós. Trata-se de um bocadinho dos nossos sentimentos que oferecemos a uma folha de papel – se os oferecemos é porque os devemos partilhar. Acham irracional? Ainda bem, é esse o objectivo. E eu confesso, não que eu seja um modelo para alguma coisa, mas nunca escondi um poema. E resultou? Não sei. Mas espero um dia encontrar uma mulher que verdadeiramente os perceba, os admire e me escreva um poema. Aí darei por encontrado o Amor e serei o mais irracional possível.

 

CONCLUSÃO

Este manifesto não tem um propósito, um único propósito racional. Os únicos propósitos que tem são irracionais, e tem vários, uns mais implícitos e outros mais explícitos. Mas como alguém me disse um dia, “se queres mostrar algo a alguém escreve, estás sempre a ser seguido”. Eu acreditei e por isso escrevo, escrevo para que sejamos cada vez mais irracionais.

Espero que a mensagem passe, espero que efectivamente alguma coisa mude e se mais não for a nossa vida.

Acabemos com a racionalidade!

 

João Gomes de Almeida

link do postPor João Gomes de Almeida, às 22:47 

De poteta a 30 de Setembro de 2009 às 22:59
também assino o manifesto!

magnifico!

do primeiro ao sétimo ponto...

introdução à conclusão...

Concordo!

De
( )Anónimo- este blog não permite a publicação de comentários anónimos.
(moderado)
Ainda não tem um Blog no SAPO? Crie já um. É grátis.

Comentário

Máximo de 4300 caracteres



Copiar caracteres

 



O dono deste Blog optou por gravar os IPs de quem comenta os seus posts.

Ana Anes

Ana Anes nasceu em Lisboa a 2 de Abril de 1973, com o cordão umbilical bem preso no pescoço. Pode-se dizer que é uma sobrevivente (alegre) e, como tal, decidiu festejar a vida com um carácter irreverente, livre de constrangimentos e da opinião alheia, com uma faceta “bombista-literária” em que não se levando a sério - porque a vida já é demasiado pesada por si mesma...
Tem dois livros publicados, e já escreveu em vários órgãos de imprensa, como O Independente, Destak, DNA, Maxmen, Correio da Manhã e Playboy. Os seus blogues já deram muito que falar.
Ana Santiago

Primeiro queria ser médica de autópsias, depois teve a mania de ser jornalista e apaixonou-se pela rádio, acabou por dedicar-se ao serviço público e vive uma relação passional com Lisboa, como sede no poder local, onde editou a Agenda Cultural.
Licenciada em Comunicação, resignou-se ao facto de pouco mais saber fazer na vida do que comunicar, de manhã à noite, com toda a gente e, se mais ninguém houver por perto, com ela mesma. Acredita que é com o coração.
Cátia Simão

Foi em véspera de uma Sexta-Feira 13 de Setembro que sua mãe conheceu o rosto enrugado e percebeu que não era o David (sobre o qual) tanto conversara durante 9 meses. Daí para a frente foi muitos nomes a até se assentar como Cátia. Cresceu pensando que iria ser modista, mas não tinha muito jeito para fazer costuras e braguilhas. Virou-se para a arqueologia e seguiu outro caminho, a música, os filmes e a rádio. Seguiu-se dos seus amores de garota. Ainda hoje procura as agulhas do seu giradiscos portátil na bainha de um vestido rosa da moda. É muito feliz e gosta de sorrir.
Cláudia Köver

Tem os ensinamentos anglo-saxónicos cravados nas sardas e o amor às artes nas pontas dos dedos. O gosto pela manta das Relações Internacionais, adquirido pelos retalhos da herança familiar, consome-se nas almofadas do mestrado. Seguiu um coelho branco e calçou os saltos de jornalista EM que de momento lhe assentam os pés. Deixou pequenas pegadas nas páginas da “Pública”, da revista “Nós” do Jornal i, do Jornal Briefing e da televisão Arte. Incapaz de se manter fiel ao amor por um só par de sapatos, fez cursos em instituições europeias e teve aulas de representação em palco poeirento. Infelizmente, não teve dom para fazer dinheiro como viajante, mas soma este aos restantes vícios: desde a última tarde de 86 que não se inibe de sorrir e sonhar.
Inês Leão

Registada na bela freguesia de Mem Martins, Inês teve uma infância feliz, até ao dia que teve de abandonar o ballet por ter as pernas tortas (erro que nunca foi corrigido pelas botas ortopédicas ora azuis ora castanhas, que usou até tarde). Sempre gostou muito de desenhar, tendo como maiores influências os filmes clássicos da Disney, a Barbie e o seu pai. Quando teve de escolher a sua área optou por artes, por não ter matemática, não fazendo ideia que teria de gramar com geometria descritiva. É recém-chegada no design e o seu sonho é ser uma designer de sucesso, trabalhando a partir do seu iate privado na marina da Costa Nova, na Ria de Aveiro.
Nuno Miguel Guedes

Nuno Miguel Guedes nasceu em Lisboa em 1964. Jornalista, esteve no inicio de O Independente, de onde saiu em 1990 para a revista Kapa, de que foi co-fundador e co-afundador. Escreve para várias publicações e é colaborador pemanente da revista Visão (cultura) Letrista sempre que o deixam, guionista de televisão, bloguista, DJ ocasional, anglófilo, fanático da Académica e de livros. Nos tempos livres pratica o dry martini.
Pedro Rainho

Nasceu no iníco da década de 60, na vila de Sintra. Filho de família aristocrata, cedo forçou-se a desiludi-la. Aos 14 anos já estava ilegalmente no MRPP, onde foi companheiro de luta académica de Durão Barroso, na Faculdade de Direito. Mal acabou o curso viu nascer Abril e ingressou no jornalismo. Tornou-se barbudo e descobriu o fado, a monarquia e os touros. Por esses quatro motivos entrou com o Nuno Miguel Guedes no PPM e dedicou-se ao jornalismo como paquete de Paulo Portas e Miguel Esteves Cardoso n'O Independente. Escreveu três ensaios sobre literatura russa medieval, traduzidos em mandarím e tchecheno. Deu aulas na Independente e consumiu marijuana com o comandante Zapata, durante uma fotoreportagem. Tudo isto é mentira - mas bem que podia ser verdade, não tivesse ele nascido na década de oitenta e ser um jovem jornalista precário. É o que dá ser novo.
Tomás Vasques

Advogado de profissão, não se deixou enclausurar em códigos e barras. Arrumado na prateleira da esquerda pela natureza das coisas, desenvolveu na juventude – ainda as mil águas de Abril não tinham chegado – gostos exóticos, onde se incluíam chineses, albaneses e charros alimados. Navegou por vários territórios: da pintura à América Latina, da escrita à actividade política. Gosta de rir, de cozinhar, de Roberto Bolaño, de amigos, cerveja e peixe fresco. Irrita-se com a intolerância e o autoritarismo. É agnóstico. Apesar da idade, ainda não perdeu o medo do escuro, do sobrenatural e das ditaduras.
 
subscrever feeds