"Shrink" (A Mente dos Famosos), de Jonas Pate
"O que é isto? Isso é um cigarro europeu".
Responde o psiquiatra à sua paciente pro-bono, que encontra no carro do médico um charro, dos muitos que a personagem interpretada por Kevin Spacey fuma no filme "Shrink", de Jonas Pate.
Vale a pena ver, pelo excelente elenco e pela qualidade da fotografia, embora o argumento me pareça pouco consistente e não explore a intensidade dramática da história e das personagens.
No entanto, tem falas brilhantes e aquela é também mais uma prova daquilo que há anos os americanos, por via do cinema sobretudo, vêm fazendo com a Europa e com os europeus - Branding ao mais alto nível.
O vinho, o tabaco, os charros, o sexo, a boémia, o amor "desaburguesado" e livre (?), e até a maionese nas batatas fritas (o diálogo de dez minutos no "Pulp Fiction" acerca deste condimento é um caso de estudo) são tudo produtos de marca europeia nos filmes made in USA, seja para justificar um vício, seja para enaltecer um valor ou um prazer que a Europa costumizou. A técnica é simples, um misto de fascínio e reprovação pelas manias e o "way of living" do velho continente.
Diz a teoria que quando o trabalho de gestão de uma marca é bom, a marca supera o produto. Os europeus que consomem o cinema e a produção televisiva dos EUA em doses industriais vêem-se superados pelos americanos. O sentimento é ambíguo, um misto de orgulho e de soberania cultural, com um pouco de condescendência pelos estadunidenses. Os branders americanos da Europa querem globalizá-la, sobretudo a sua versão mais ocidental. Mas os europeus gostam de ser uma minoria, um nicho dos costumes sociais no mundo, uma elite. O resultado é bom para os dois lados do Atlântico - ambos permanecem iguais a si próprios; A América rouba para dar aos seus pobres de identidade e a Europa reconhece-se, quando já perdeu ela própria alguma da sua identidade. Não me parece uma má contratação nossa.