... Não existe.
A propósito do problema das mulheres bonitas trazido à baila pelo João, diverte-me pensar que as mulheres não têm problema nenhum com os homens bonitos. Elas não os querem. Eles não as perturbam.
Não procuramos os homens bonitos, pelo menos não daquele bonito simétrico, perfeito, carinha muito lavada. A diferença entre um Brad Pitt e um Benicio del Toro, ou um Javier Bardem, é a mesma que existe entre um apartamento perfeito num condomínio fechado, numa zona sem comércio nem serviços, e um apartamento com umas rachas, o pé direito alto, boa localização e bem servido de equipamentos culturais e comerciais. Não me ocorreu outra imagem que não a do sector imobiliário. Mas um homem é também um espaço que habitamos, com todos os encargos de manutenção da propriedade que isso nos traz.
As mulheres não suspiram aos ouvidos das amigas: "aquele homem é tão bonito". As mulheres ficam com as bochechas coradas à conta de um homem "giro", "interessante", "bom". Desenvolvendo o vocábulo feminino: um homem a quem se atribuem coisas como "charme", adjectivos como "sexy" ou "sensual", lógicas de investimento como "aquele homem dá trabalho, mas deve valer a pena", bónus como a "inteligência" e o "sentido de humor".
Os homens, insisto em dizer, são como as casas. Mas há uma grande diferença. Já há muitos anos que defendo o arrendamento, usar sem comprar. Ter sem me comprometer. Ora, com os homens não pode ser assim. Quando se quer, à séria, já se comprou. Essa é a diferença entre a propriedade imobiliária e o espaço onde queremos que o nosso coração seja inquilino. E quando decidimos entrar em casa nova com o coração nas mãos estamos irremediavelmnete perdidas. Se decidirmos habitar um homem, Deus nos acompanhe, ninguém nos faz um contrato de arrendamento. Temos de comprar. E como não temos problemas com homens bonitos, porque não os queremos, temos de arranjar problemas com "os outros", aqueles a que convencionámos, de um modo geral, chamar: "interessantes". A beleza está no que nos motiva. No que nos faz subir montanhas com sandálias de salto alto, afastar a vegetação selvagem com o verniz das unhas ainda a secar, sobreviver no mato e regressar a casa, ao nosso homem, com as meias rasgadas, a maquilhagem borrada, mas a certeza que fomos até ao fim e descobrimos umas boas coisas sobre a nossa casa e a forma como a queremos viver, decorar, limpar, organizar, amar.
Depois, vem um dia, e nós sabemos assim que o sol entra pela janela que é esse o dia, em que nada mais será igual. É quando descobrimos se a nossa casa é o nosso lar ou apenas uma propriedade que teremos de pôr à venda. Os homens são a nossa casa, mas nem todos conseguem ser o nosso lar. E é a ele que queremos regressar sempre.