Ainda não compreendi bem o que é isto do facebook. Eu que me faço passar vezes sem conta como especialista na coisa e que até me dei ao trabalho de escrever um livro sobre as tecnologias 2.0, não sei o que é o facebook. Em tempos até tive um hi5 mas, sem desprimor para as pessoas que ainda o têm, achei que era uma imensa falta de tempo e de bom génio que motivasse outras preocupações - mas isso é a minha mentalidade neo-conservadora, como dizem os colegas de escritório. Para além disso, há aqui uma série bastante complexa de preceitos éticos que abalam a minha alma quando penso no facebook e similares. Passo então a explicar a minha opinião em três pontos.
Estes sistemas, em primeiro lugar, são ofensivos do conceito de amizade, pelo simples motivo de nos fazerem catalogar, por ordem alfabética, aquilo que nós chamamos de amigos - conceito que para além de redutor demonstra a banalidade em que transformamos a palavra a amizade.
Em segundo lugar, estes sistemas funcionam como uma forma de conhecermos pessoas - a mais macabra forma diga-se. Portanto, nós vamos conhecer pessoas, dizer-nos interessados numa possível amizade, numa hipotética relação, baseando-nos num monte de banalidades como os filmes preferidos, os livros do costume e duas ou três músicas e, como não podia deixar de ser, nas fotografias - ou seja, conhecer uma pessoa no universo 2.0 trata-se, por norma, de um mero conjunto de conceitos fúteis. Os engates então nunca resultam bem.
O terceiro ponto é o voyeurismo que se vive nestes sistemas facebook e similares. Nós damo-nos ao trabalho de colocarmos, dia após dia, semana após semana, fotografias nossas, para que os outros vejam as viagens que fizemos, as festas onde estivemos e os novamente amigos que temos - ou seja, abdicamos da nossa privacidade e oferecemos aos outros. Em troca de quê? De nada, a não ser de gabarolice. Para além disso, estes sistemas, do ponto de vista do voyeurismo, têm uma característica que eu considero inacreditável, que é o facto de nós permitirmos que todas as pessoas vejam as mensagens e os "testemunhos" que deixamos aos nossos pseudo-amigos. Ter alguém a dizer bem de nós faz-nos sentir importantes.
Ainda que obviamente céptico quando ao facebook vou observando a coisa e nunca digo nunca. Mas para já não me parece que esteja interessado nem em catalogar os meus amigos, nem em conhecer "amigos" virtuais e muito menos em dar a conhecer as conversas que tenho com as outras pessoas.. Vou vivendo bem assim.